31.10.07

espaço : os melhores momentos virtuais




Zhang Xiaogang

Porque pertenço à raça daqueles que mergulham de olhos abertos
E conhecem o abismo pedra a pedra, anémona a anémona, flor a flor.

Sophia de Mello Breyner Andresen

É impressionante como no tal abismo nos encontramos com "coisas" tão duras e "coisas" simultaneamente tão belas.
É um privilégio viver (mesmo sabendo que isto não é nada fácil)!
:)

Obrigado Cores do Aquário por te lembrares daqui. O teu blog é uma lufada de ar fresco.



. palavras de sabão . un-dress . moriana . le petit roy . le temps des cerises .
.

30.10.07

espaço. exacto. (in)visível. secreto.


Nicholas Hughes

O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fracção de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exactidão.
Pena que a maior parte do que existe
com essa exactidão nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.


Clarice Lispector

29.10.07

um espaço onde me deito ao comprido


Guste

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

Alberto Caeiro

27.10.07

o deserto no espaço cidade







John Salminen

Dantes havia homens que se retiravam para o deserto. Para melhor se conhecerem, para comunicarem com Deus, mas nenhum – penso – para conhecer o deserto. Alimentavam-se de mel e gafanhotos, quando não jejuavam.

Agora foi o deserto que se instalou entre nós. E os seus desígnios não são menos obscuros.

Jorge Sousa Braga

É no meio da multidão que a solidão se torna mais profunda.
Comuniquemos!

26.10.07

o espaço verde também se adquire


Bogdan-Andrei Ailincai

A esperança adquire-se. Chega-se à esperança através da verdade, pagando o preço de repetidos esforços e de uma longa paciência. Para encontrar a esperança é necessário ir além do desespero. Quando chegamos ao fim da noite, encontramos a aurora.

Georges Bernanos

25.10.07

espaço : o que me bastou


Peppery

No terraço daquela tarde imensa quiseste contar-me do fascínio que viste na paisagem, na verdade das tuas conquistas e dos passos que te arrependeste.

Porém, o que me bastou foi a evidência do teu beijo.

um espaço sobre "o que nos protege"


?

Às vezes tenho medo de esquecer tudo:
a casa onde nasci, o recreio
da escola, essas vozes
que lembram um copo de água
no verão.

Jorge Gomes Miranda

Lembrei-me deste poema/sentimento por causa das magníficas imagens deste e deste post.
Obrigado.

24.10.07

espaço da bela acordada

Era uma vez uma mulher que tão depressa era feia era bonita, as pessoas diziam-lhe:
- Eu amo-te.
E iam com ela para a cama e para a mesa.
Quando era feia, as mesmas pessoas diziam-lhe:
- Não gosto de ti.
E atiravam-lhe com caroços de azeitona à cabeça.
A mulher pediu a Deus:
- Faz-me bonita ou feia de uma vez por todas e para
sempre.
Então Deus fê-la feia.
A mulher chorou muito porque estava sempre a apanhar
com caroços de azeitona e a ouvir coisas feias. Só os animais
gostavam sempre dela, tanto quando era bonita como quando
era feia como agora que era sempre feia. Mas o amor dos animais
não lhe chegava. Por isso deitou-se a um poço. No poço,
estava um peixe que comeu a mulher de um trago só, sem a
mastigar.
Logo a seguir, passou pelo poço o criado do rei, que
pescou o peixe.
Na cozinha do palácio, as criadas, a arranjarem o peixe,
descobriram a mulher dentro do peixe. Como o peixe comeu a
mulher mal a mulher se matou e o criado pescou o peixe mal o
peixe comeu a mulher e as criadas abriram o peixe mal o peixe
foi pescado pelo criado, a mulher não morreu e o peixe
morreu.
As criadas e o rei eram muito bonitos. E a mulher ali era
tão feia que não era feia. Por isso, quando as criadas foram
chamar o rei e o rei entrou na cozinha e viu a mulher, o rei
apaixonou-se pela mulher.
- Será uma sereia ? – perguntaram em coro as criadas ao
rei.
- Não, não é uma sereia porque tem duas pernas, muito
tortas, uma mais curta do que a outra – respondeu o rei às
criadas.
E o rei convidou a mulher para jantar.
Ao jantar, o rei e a mulher comeram o peixe. O rei disse à
mulher quando as criadas se foram embora:
- Eu amo-te.
Quando o rei disse isto, sorriu à mulher e atirou-lhe com
uma azeitona inteira à cabeça. A mulher apanhou a azeitona e
comeu-a. Mas, antes de comer a azeitona, a mulher disse ao rei:
- Eu amo-te.
Depois comeu a azeitona. E casaram-se logo a seguir no
tapete de Arraiolos da casa de jantar.


Adília Lopes

22.10.07

um espaço aos teus pés



Wasted

Se eu tivesse as sedas bordadas do céu.
Com bainhas de luz de ouro e de prata.
As sedas azuis e sombrias e escuras.
Da noite e da luz e da meia-luz.

Deitava-as todas aos teus pés.

Mas eu sou pobre e só tenho os meus sonhos.
Deitei-os todos aos teus pés
Pisa com cuidado,
É nos meus sonhos que estás a pisar.

W. B. Yeats

traços e cores no espaço


Cristina Valadas

Aquele que se deixa prender por uma alegria,
rasga as asas da vida;
Aquele que beija a alegria enquanto ela voa,
vive no amanhecer da eternidade.

William Blake

19.10.07

espaço : áfrica negra & white



Philippe Pache
Alain Corbel


Assume o amor como um ofício
onde tens que te esmerar,

repete-o até à perfeição,
repete-o quantas vezes for preciso
até dentro dele tudo durar
e ter sentido

Deixa nele crescer o sol
até tarde,
deixa-o ser a asa da imaginação,
a casa da concórdia,

só nunca deixes que sobre
para não ser memória.


Quisera um dia
a terra
o hábito de ser carne
membro boca olho
ou areia molhada
que o mar reclama
e eis que súbita
a pele grávida
a margem flácida
se desaba cada segundo
onde um grão amassa um filho.


Felizes os Homens
que cantam o amor.

A eles a vontade do inexplicável
e a forma dúbia dos oceanos.



Estes três poemas são de Eduardo White, moçambicano, nascido em Quelimane em 1963.

Ambos são belíssimos, no entanto, hoje caminho mais pelo primeiro. Apesar do tema não parecer palpável, quase o consigo tocar. Sinto-o muito concreto. Diz-me que aquilo de que o texto fala exige esforço e que adira a ele como um "T. P. C." para muito tempo.

17.10.07

o espaço onde às vezes regresso



Snjezana Josipovic

A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos

Durmo no mar, durmo ao lado do meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo

Tivesse ainda tempo e entregava-te o coração

José Tolentino Mendonça

16.10.07

espaço "i"


Crackart

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Um amor simples, muito simples.

15.10.07

espaço a meu lado


Egon Schiele - Elena Odriozola

Eu não sou eu.
Sou este
Que vai a meu lado sem eu vê-lo;
que, por vezes, vou ver,
e que, às vezes, esqueço.
O que se cala, sereno, quando falo,
o que perdoa, doce, quando odeio,
o que passeia por onde estou ausente,
o que ficará de pé quando eu morrer.

Juan Ramón Jimenez

11.10.07

o teu espaço dura(s)



Sophie Gotti

O dia de hoje não amanheceu e não há o menor sopro no alto das florestas ou nos campos, nos vales. Não se sabe se é o verão ainda ou o fim do verão ou uma estação mentirosa, indecisa, horrível, sem nome.

Já não te amo como no primeiro dia. Já não te amo.


Gosto muito de Marguerite Duras mas, de momento, dificilmente conseguiria escrever tantas e tamanhas mentiras.

9.10.07

espaço revolução


SeanSean

A única revolução possível é dentro de nós.


A frase de Gandhi faz-me lembrar uma história que li ou ouvi algures. A ideia resumida é mais ou menos esta...

Um jovem homem passou muitos anos da sua vida a tentar mudar o mundo com empenho e esforço. A dada altura, já em idade adulta e avançada, ao perceber o seu fracasso, achou que pelo menos transformaria a sua família, amigos próximos e vizinhança. No entanto, apesar das tentativas perseverantes, com o tempo, deu-se conta que pouco havia conseguido.
Finalmente, ao chegar à velhice, tentou pelo menos mudar-se a si próprio. E, verificou que ao fazê-lo, tudo mudava à sua volta.

Enganamo-nos se a história nos parece um convite à inacção, a ficarmos centrados em nós próprios num egocentrismo infecundo.
É antes a consciência, de que pensar em alterar o mundo sem nos alterarmos a nós mesmos, mais que um engano, é uma ilusão.

espaço : amigos para a nossa fome


Stanko Abadzic

Não muita vez nos vemos, mas, se poucos
amigos há para falar
dos quais me sirvo de relâmpagos, de todos
é ele o que melhor vai com a minha fome.

Luís Miguel Nava

É possivelmente dos versos mais iluminados que tenho visitado ultimamente.
Em jeito de manifesto, levem-no...
Este post não é só meu!

8.10.07

espaço : a importância do sonho


Wasted


O sonho é o guardião do sono. Uma espécie de fada-madrinha que , com a sua varinha, realiza, mais ou menos disfarçadamente, desejos - até então insatisfeitos - para que o sono seja cumprido em paz. O sonho é de tal modo essencial à espécie humana, que se fosse possível em laboratório, interromper exclusivamente o chamado sono REM (rapid eye movement - justamente a fase em que sonhamos), ao fim de dez dias o indivíduo começava a delirar.

Como é óbvio, não estou a fazer apologia a dormirmos mais. Basta que sonhemos... mesmo acordados.

a estrela de papel para o espaço



Élena Nazzaro

Foi um sonho que eu tive:

Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.

O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão.
E a estrela ía subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.

Mas tão alta subiu,
Que deixou de ser estrela de papel.

E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.

Miguel Torga

6.10.07

espaço : outono


Cyril Auvity

É difícil acreditar que o Verão terminou.

sempre: espaços mais imagináveis

Quanto mais racional, produtiva, técnica e total se torna a administração repressiva da sociedade, mais imagináveis se tornam os modos e os meios pelos quais os indivíduos administrados poderão romper a sua servidão e conquistar a sua própria libertação.

Herbert Marcuse

um espaço contagioso


?

Acorde

Onde passou o vento
são altas as ervas,
e os olhos água
só de olhar para elas.


Eugénio de Andrade

De quando em quando, nas amizades que não vemos sempre, reencontramos pessoas por onde percebemos que passou um vendaval.
Ontem sucedeu-me isso!
Percebi na profundidade do seu gesto que tinha crescido em beleza e conceito.


Hoje, se me sinto elevado, é apenas por contágio!

5.10.07

um espaço: lavado, enxugado e cortado



Nobuyoshi Araki
Rose-Lynn Fisher

Sei que o homem lavava os cabelos como se fossem longos
Porque tinha uma mulher no pensamento
Sei que os lavava como se os contasse

Sei que os enxugava com a luz da mulher
Com os seus olhos muito claros voltados para o centro
Do amor, na operação poderosa
Do amor

Sei que cortava os cabelos para procurá-la
Sei que a mulher ia perdendo os vestidos cortados

Era um homem imaginado no coração da mulher que lavava
O cabelo no seu sangue

Na água corrente

Era um homem inclinado como o pescador nas margens para ouvir
E a mulher cantava para o homem respirar

Daniel Faria

4.10.07

espaço 5 de outubro



Um programa para amanhã.
Mesmo que chova passarei por lá!

2.10.07

espaço : vai. vai.


Gasiorowski


não
já não me prendo a nada
mantenho-me suspenso neste fim de século
reaprendo os dias para a eternidade
porque onde termina o corpo deve começar
outra coisa outro corpo
ouço o rumor do vento
vai
alma vai
até onde quiseres ir

Al Berto

os imprescindíveis no espaço


Wilhelm Sasnal

Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis.

Bertold Brecht

Não porque façam grandes feitos.
Muitas vezes a sua acção não passa para além de si próprios, de um núcleo pequeno de pessoas, do vulgar quotidiano.
É apenas porque lutam... sempre!