30.12.07

Espaço : uma terrível verdade!


? (alterada)

Deixarás de temer quando deixares de ter esperança.

Séneca

Não podia não referir.

29.12.07

Um espaço sobre não podermos adiar decisões


Pencik

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas.

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio.

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação.

Não posso adiar o coração.

António Ramos Rosa

28.12.07

Beijos famosos. Um espaço.


Henri Cartier Bresson
Stefano Montesi

(...)
Com a minha língua rodeio mundos e mundos.


(...)

A felicidade (que todos aqueles que me ouvem, homens ou mulheres, vão hoje mesmo procurá-la).

Walt Whitman

27.12.07

Espaço sobre a inquestionável beleza.

[...]

A beleza é uma forma de génio...
diria mesmo que é mais sublime que o génio por não precisar de qualquer explicação.
É um dos grandes factos do mundo, como a luz do sol,
ou a primavera, ou o reflexo nas escuras águas dessa concha de prata a que chamamos lua.
É inquestionável.

[...]


Oscar Wilde

Apetece-me dizer sobre este e este blog.

26.12.07

Um espaço em que a Luz permanece.


Gerhard Richter

21.12.07

Espaço : A minha mensagem de Natal.


Nan Goldin

Minha mãe cozinhava
exactamente: arroz, feijão, molho de batatinhas.
Mas cantava.

Adélia Prado

Hoje dedico este post especialmente àqueles cujos actos revelam disponibilidade e generosidade.

Um sincero Bom Natal a todos e até daqui a uns dias!

20.12.07

Clarice Lispector, um espaço comum.




Suryo Wibowo
?
Lia Leis

Este é possivelmente o texto mais longo que coloquei aqui. Se o fiz é porque me identifico com ele e com a sua forma de ver a vida e o mundo. Na minha opinião, vale a pena perder [ou ganhar] cinco minutos a lê-lo.

O único ponto em que não posso fazer das palavras de Clarice L. as minhas, é no que respeita à escrita. De facto, não lhe dou a mesma importância, nem me atrevo a identificar-me de leve com a genialidade dela.

Apesar disso, nesta época que considero especial, deu-me vontade e gozo de me apropriar das suas convicções e de as comunicar aqui.

Fiquem bem! :)

Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou a minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. "O amar os outros" é tão vasto que inclui até o perdão para mim mesma com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida . Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.

E nasci para escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que, foi esta que eu segui. Talvez porque para outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E no entanto cada vez que eu vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estreia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.

Quanto aos meus filhos, o nascimento deles não foi casual. Eu quis ser mãe. Meus dois filhos foram gerados voluntariamente. Os dois meninos estão aqui, ao meu lado. Eu me orgulho deles, eu me renovo neles, eu acompanho seus sofrimentos e angústias, eu lhes dou o que é possível dar. Se eu não fosse mãe, seria sozinha no mundo. Mas tenho uma descendência, e para eles no futuro eu preparo meu nome dia a dia. Sei que um dia abrirão as asas para o vôo necessário, e eu ficarei sozinha: É fatal, porque a gente não cria os filhos para a gente, nós os criamos para eles mesmos. Quando eu ficar sozinha, estarei seguindo o destino de todas as mulheres.

Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nenhuma garantia.

Ao passo que amar eu posso até à hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse a minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera.

Clarice Lispector

18.12.07

Sobre regressos : o teu espaço comovente.



Sophie Gotti

O teu rosto é tão diferente
tão comovente molhado de
lágrimas e pronto a rebentar
de riso.

Blaise Cendrars

Asas, um espaço oferecido.


Lino

Apetece-me explicar, agora, as asas dos anjos.

Jorge de Sena

17.12.07

Outro espaço sobre o Natal...

O verdadeiro presente é tornarmo-nos presentes.

16.12.07

Sempre inacabados, um espaço a renovar


Sunnyou

A maior riqueza do homem é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

Manoel de Barros

Agrada-me o texto. A consciência de ser inacabado, de alguém permanentemente em construção, alguém que tem desejos de mais.

A única frase que, sinceramente, não sei se gosto é a "mas eu preciso ser Outros". Fico com a sensação de quem foge de si e da sua realidade em vez de a acolher transformadoramente e a positivar.

15.12.07

Tu espacio : porque...



Diane Golay
Sophie Thouvenin

(...)

porque eres mía
porque no eres mía
porque te miro y muero
y peor que muero
si no te miro amor
si no te miro

Mario Benedetti

Espaço : emergência!


?

Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.

Mário Quintana

12.12.07

Space. Private relationships.







Kelli Connell

Onde uma tem
O cetim
A outra tem a rudeza

Onde uma tem
A cantiga
A outra tem a firmeza

Tomba o cabelo
Nos ombros

O suor pela
Barriga

Onde uma tem
A riqueza
A outra tem
A fadiga

Tapa a nudez
Com as mãos

Procura o pão
Na gaveta

Onde uma tem
O vestígio
Tem a outra
A pele seca

Enquanto desliza
O fato
Pega a outra na
Enxada

Enquanto dorme
Na cama
A outra arranja-lhe
A casa

Maria Teresa Horta

A single model plays two roles in each of the photographs in this portfolio from Kelli Connell. Connell uses elements of private relationships she has experienced herself or witnessed in others to inspire these two-person scenes. She then uses Photoshop to stitch multiple medium-format negatives together to create the juxtapositions in the final photographs. The result is a multi-faceted questioning of duality: of masculine and feminine, exterior and interior, static and evolving. Appropriately, Connell’s intentions here are two-fold. One the one hand she exposes her autobiographical questioning of sexuality and gender roles, particularly as they influence identity in relationships. On the other hand she is also interested in how the response of viewers reveals their own notions of identity and social constructs.

Os mesmos critérios, um espaço de perigo.



?


Ultimamente, fico com a sensação de que as embalagens de Natal são consideradas mais importantes que as próprias lembranças.
Como se preferíssemos a aparência. Como se escolhêssemos a casca em vez do conteúdo, o exterior em detrimento do interior, o aspecto em vez do real.


Provavelmente sou questionado por esta época porque gosto dos seus gestos e dos seus significados.
Provavelmente o que me assusta - de facto - não é a forma como vemos os presentes e os embrulhos mas, pensar que muitas vezes olhamos para as pessoas com os mesmos critérios.

10.12.07

Um espaço de repouso


Andreas Heumann

Quando no outono
as árvores estavam nuas
uma tarde a nuvem de pássaros
exaustos
poisou sobre os ramos.
Pareciam ter regressado as folhas
baloiçando ao vento.

Tonino Guerra

9.12.07

Espaço : aprendemos e aprendemos...


?

Após um tempo,
Aprendemos a diferença subtil
Entre segurar uma mão
E acorrentar uma alma,
E aprendemos
Que o amor não significa deitar-se
E uma companhia não significa segurança
E começamos a aprender...
Que os beijos não são contratos
E os presentes não são promessas
E começamos a aceitar as derrotas
De cabeça levantada e os olhos abertos
Aprendemos a construir
Todos os seus caminhos de hoje,
Porque a terra amanhã
É demasiado incerta para planos...
E os futuros têm um forma de ficarem
Pela metade.
E depois de um tempo
Aprendemos que se for demasiado,
Até um calorzinho do sol queima.
Assim plantamos nosso próprio jardim
E decoramos nossa própria alma,
Em vez de esperarmos que alguém nos traga flores.
E aprendemos que realmente podemos aguentar,
Que somos realmente fortes,
Que valemos realmente a pena,
E aprendemos e aprendemos...
E em cada dia aprendemos.

Jorge Luís Borges

Continuo a pensar que o grande caminho é o outro, no entanto, acredito mesmo que deve persistir a consciência de que não podemos deixar de plantar o nosso próprio jardim.

7.12.07

Escuto o mar, o teu espaço claro



Si Huy
Nadav Kander

As árvores vinham ao limite da estrada
beber a água que das nossas mãos escorria.



Caminhar até mim é ir até onde?
Encosto o ouvido ao teu seio
escuto o mar.

Paulo Jorge Miranda


... como o suave sussurro [também do mar] que nos desperta para a manhã clara e sempre nova. Que nos dá os bons dias e umas tantas outras preciosas palavras que guardo em vez de proclamar.


outra claridade

... a todos que por aqui!

:)

6.12.07

Haiku no espaço


A. G. Barrows

esta estrada
ninguém desce nela
noite de outono

Matsuo Basho

5.12.07

Entre os olhos e o mar, um espaço...


Perry Rubenstein

Entre os olhos e o mar
um ruído murado
demorado
pegada social em contraluz

Dentro d'água
o barco fruto das mãos
amadurecido, habitado
rema na maré
a favor… contra… a favor… contra…
avança…

Já vai longe o homem sozinho
parece pequeno daqui
imerso no ar da grande procura

Em mais uma partida dos sentidos
sobreviveremos até amanhã
na esperança de outro verso
que não virá…

Na sinfonia coragem de cada passo
imensifica-se este homem…
e recomeça !


Pedro Castro

Sobem-se os degraus, às vezes depressa, outras vezes devagar. Umas vezes com entusiasmo e outras vezes apenas porque sim.

[por decisão]
[mesmo que sofrida]
[ainda que às costas de outros]

E, entre um degrau e o seguinte, há o esforço necessário da subida.

[a tensão muscular]
[o comando dado pela cabeça]
[o desejo de mais]
[...]

Enfim, duvido dos meios termos. Não avançar é sempre, de algum modo, um retrocesso. Dia a dia, inevitavelmente, ou se cresce ou se decresce.

[apesar do movimento mal se ver]

Dentro de nós há um tipo de coragem que vem do mar [de amar] e importa usarmos dela.

Quem escreveu este poema usa-a. Obrigado!

Espaço : só por dentro de ti


Anca Moanta

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.

David Mourão Ferreira

2.12.07

Um espaço para começos.


?

Não me manietei. Dei-me totalmente e fui.
Aos deleites, que metade reais,
metade volteantes dentro da minha cabeça estavam,
fui para dentro da noite iluminada.
E bebi dos vinhos fortes, tal
como bebem os denodados de prazer.

K. Kavafis

Bom início de semana!