25.11.08

A grandeza no espaço

Somos pequenos e é o seu reconhecimento que nos pode tornar maiores.

21.11.08

Um espaço e nada mais






?


Um céu e nada mais - que só um temos,
como neste sistema: só um sol.
Mas luzes a fingir, dependuradas
em abóbada azul - como de tecto.
E o seu número tal, que deslumbrados
eram os teus olhos, se tas mostrasse,
amor, tão de ribalta azul, como de
circo, e dança então comigo no
trapézio, poema em alto risco,
e um levíssimo toque de mistério.
Pega nas lantejoulas a fingir
de sóis mal descobertos e lança
agora a âncora maior sobre o meu
coração. Que não te assuste o som
desse trovão que ainda agora ouviste,
era de deus a sua voz, ou mito,
era de um anjo por demais caído.
Mas, de verdade: natural fenómeno
a invadir-te as veias e o cérebro,
tão frágil como álcool, tão de
potente e liso como álcool
implodindo do céu e das estrelas,
imensas a fingir e penduradas
sobre abóbada azul. Se te mostrasse,
amor, a cor do pesadelo que por
aqui passou agora mesmo, um céu
e nada mais - que nada temos,
que não seja esta angústia de
mortais (e a maldição da rima,
já agora, a invadir poema em alto
risco), e a dança no trapézio
proibido, sem rede, deus, ou lei,
nem música de dança, nem sequer
inocência de criança, amor,
nem inocência. Um céu e nada mais.

Ana Luísa Amaral

16.11.08

Espaços e caminhos : uma imensidão


Ryan Mcginley


Mesmo que se tenha percorrido muitos caminhos, ainda na vida haverão muitos caminhos a percorrer.

Santo Agostinho

14.11.08

Espaço : aprender a olhar


Jessica Romberg


Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

A festa no espaço

- Preciso de te pedir um favor. Quero que me dês licença para eu organizar uma festa: uma festa aqui no jardim, uma festa de flores igual às festas dos homens.

– Uma festa igual à dos homens? Mas para quê? Nós não precisamos de mais festas. Para nós tudo é uma festa: é uma festa o orvalho da manhã, é uma festa a luz do sol, é uma festa a brisa da tarde, é uma festa a sombra da noite. As flores não precisam de outras festas. E eu também não.

- Uma festa para nos divertirmos - respondeu o gladíolo.

- Não somos homens - disse o Rapaz de Bronze - , pareces a Dona da Casa. Ela não sabe passear no jardim, nem repara na brisa da tarde, nem olha para as estrelas da noite. Só quer festas com muitas pessoas e com muito barulho. Quando está sozinha murcha!

- Se eu não for a uma festa fico muito infeliz! Deixa-me organizar uma festa.

Então o Rapaz de Bronze viu que o Gladíolo estava com um ar muito melancólico e amachucado e teve pena dele e disse.

- Não estejas triste. Endireita as tuas pétalas. Podes fazer a festa.

Sophia de Mello Breyner

13.11.08

Espaço : os lugares da cama



Jenny Kristina


Adormecemos juntos acordamos
apartados
disputámos o lençol como
quem puxa a razão par si
a
quantos beijos estamos hoje: de distância?
de manhã a voz é lenta chega
a chegar atrasada
(a cama feita a correr não
vá a empregada encontrar
caída entre lençóis
a
palavra proibida). Se
os braços devem morrer ao
longo da fadiga de um corpo
que
seja ao longo do teu
(tu não me olhes assim
com o ruído nos olhos:
os beijos desarrumados depois
de os utilizares)
por favor fica a meu lado. Quero
que sejas tu o
parente mais chegado.

João Luís Barreto Guimarães

10.11.08

Espaço : os amigos


?


Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro.
construi­mos um lugar de silêncio.
De paixão.

Herberto Helder

5.11.08

Tu espacio : amanecer


Zhuang Zi


Al amanecer,
el mundo me besa
en tu boca, mujer.

Juan Ramón Jiménez