28.9.07

o espaço do coração. nuclear.


Bradley Parrish

Um coração de sangue
Um coração de xisto e aço
Um coração angular e redondo
Como a pedra que te abre
Do interior do chão

Um coração solar
De granito
De carne
Curado da noite de nascença

Um coração de homem
Um coração de homem vivo
Um coração de criança ao colo
Interior
– Mais interior do que o sangue no coração que me darás -

Peço um coração
Nuclear

Daniel Faria

espaço feridas

Não há pensos para algumas feridas.
E mesmo que houvesse, às vezes, é melhor deixá-las cicatrizar ao vento.

27.9.07

espaços que me têm falado



?

voar não é altura.
é interioridade...



já pouco lembramos deste carácer de urgência...
ou mesmo de qualquer outro carácter.
agora alimentamo-nos alarvemente do próprio verniz das palavras.
mas lembramos ainda
embora a nostalgia já nos habite mais que o desejo.
e por isso mesmo esse poema nos acorda... e é belo...


Como a outros, é um prazer ler-vos!

um espaço com sede de pureza


Brett Deacon

Com o sol a trepar pelas árvores
não tardará
que a manhã corra mais limpa
e se possa beber.

Eugénio de Andrade

Bom dia!

24.9.07

o teu espaço : tangerinas e leões



Georgi Georgiev
?

a minha alegria é o aroma de tangerina nos dedos,
comer aos gomos a paisagem
e limpar depois
a boca
à manga do espanto.
Tu puxas-me
e somos duas crianças
num trilho de mata
num banco de pedra,
num portão verde dividindo
o aqui e o ali.
Porque nós estamos aqui.
Aqui onde te entrego os meus bolsos,
e - repara - as tuas mãos cabem.

Nós estamos aqui.

Menina do rio na tua canoa de silêncios, a tua voz enrola-se na minha voz como prédios
e sombra numa cidade, como leite e açúcar na infância, como
o destino de um navio.
Atravesso quilometricamente a pobreza deste reino para te ver, para te ver uma bússola de neve,
uma corda vermelha, a destreza de um telhado através dos
dias.
Tu não precisas falar uma outra língua, o persa é uma língua que nos chega! Tu não precisas oferecer-me
portas e milhares de portas, basta que apareças.
Que apareças nesta fogueira de bruxas, na inquisição canina de uma época longe, muito longe,
dolorosamente longe da magia de um homem e de uma mulher.

Nós estamos aqui para arder pelo nosso corpo completo.
Tu e eu, leões estirados ao sol,
harpa para os nossos dedos quentes,
poema numa sala de lâminas.

Nós estamos aqui para fugir, nós estamos aqui para chegar
de vez.

Vasco Gato

grandes pintores wh : espaço janela




Winslow Homer

Já há muito tempo associo Esperança a portas e a janelas.

Janela: abertura na parede de um edifício, acima do pavimento, para deixar entrar o ar e a luz, para deixar entrar o que esperamos; abertura por onde se faz uma ligação, se estabelece uma comunicação ou que serve para ver do outro lado, por onde de par em par acolhemos o que queremos ou o que vier; sinal de quem está atento para tudo o que chegar.
Porta: abertura para dar entrada ou saída, por onde há movimento; em que se aguarda activamente, em que se parte - se necessário - para o que se espera; sinal de que tudo deve estar a postos para permanecer parado ou começar a correr.

As pinturas de Winslow Homer que retratam as mulheres a aguardar ansiosamente os barcos que se demoram, fazem-me pensar em janelas.

Quanto a mim, não estou em maré de abordar a Esperança muito a fundo. Seria demasiado ilegível... Fico apenas a pensar onde me situo com mais frequência, se numas, se noutras...

21.9.07

ímpeto de voar. espaço


Wang Yi Guang

Nunca se pode concordar em rastejar, quando se sente ímpeto de voar

Helen Keller

pressa, um espaço a que somos cativos



Sophie Thouvenin

Como fugitivos corremos pelos dias a uma velocidade que nos torna cativos do próprio tempo.

Fico com a sensação de que andamos, desde a manhã clara em que aparentemente acordamos, sem olharmos para as pessoas, acontecimentos e coisas com olhos de ver.
E, a cada minuto, dão-se novos e simples milagres que ultrapassamos sem notar.

19.9.07

un espacio arbolé arbolé



Rose-Lynn Fisher

Arbolé, arbolé
seco y verdé.

La niña del bello rostro
está cogiendo aceituna.
El viento, galán de torres,
la prende por la cintura.
Pasaron cuatro jinetes
sobre jacas andaluzas
con trajes de azul y verde,
con largas capas oscuras.
«Vente a Córdoba, muchacha».
La niña no los escucha.
Pasaron tres torerillos
delgaditos de cintura,
con trajes color naranja
y espadas de plata antigua.
«Vente a Sevilla, muchacha».
La niña no los escucha.
Cuando la tarde se puso
morada, con luz difusa,
pasó un joven que llevaba
rosas y mirtos de luna.
«Vente a Granada, muchacha».
Y la niña no lo escucha.
La niña del bello rostro
sigue cogiendo aceituna,
con el brazo gris del viento
ceñido por la cintura.

Arbolé arbolé
seco y verdé.

Federico García Lorca

Conheci este texto num livro, comprado em Madrid, acho que em 2001. Li-o na altura e não lhe dei grande valor. Um dia destes, ao visitá-lo outra vez, fiquei-me na sua forma bela, impressionado com o conteúdo simples que lhe encontrei. Ontem, ao lê-lo uma vez mais, recebi-o com a surpresa de o sentir imensamente triste...

Há dias em que não devia ler certos poemas...

:)

18.9.07

espaço 12


?

Refaçam-se agora as contas da humanidade habitável. Pois cada menino nascido faz nascer uma mãe de uma respectiva mulher. Assim, cada novo ser triplica o número dos viventes. Um filho, afinal, é quem dá à luz a mãe.

Mia Couto

17.9.07

no espaço : fala-se demasiado em tragédias


?

Não deixem de falar sobre as Hortênsias!

15.9.07

a cama é um espaço cheio : o teu




Helga Bansch

... Não te demores... Eu não me deito sem ti mais nenhum dia.

Maria do Rosário Pedreira

14.9.07

a verdade, um espaço em construção

Tua verdade? Não, a Verdade,
e vem comigo buscá-la.
A tua, essa guarda-a.

António Machado

11.9.07

o teu espaço : a invenção do amor



Nan Goldin

Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor
Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana

Daniel Filipe

O poema é enorme - tal como a sua beleza - por isso não o transcrevi todo para aqui.
Vale a pena procurá-lo e aspirar o seu doce bafo quente . Chama-se A Invenção do Amor.

10.9.07

o espaço em dois olhares


Zhuang Zi

Esta vista de mar, solitariamente,
dói-me. Apenas dois mares,
dois sóis, duas luas
me dariam riso e bálsamo.
A arte da Natureza pede
o amor em dois olhares.

Fiama Hasse Pais Brandão

Mesmo vendo todos, as mesmas coisas, de maneiras diferentes...

amizade : duas escadas para o espaço


Brad Holland

- Percebe que há coisas que não consegues fazer sozinho.
- Não?
- Percebe, pelo menos, que não consegues ir tão alto e tão longe.
- ...

7.9.07

espaço : total "i"


Ellen Kooi

Há imagens para as quais basta o vislumbre entre um piscar de olhos para que as sugestões sejam mais que muitas. Esta é uma delas!

Neste instante, o que me sobe de dentro, me queima a boca e por isso tem de sair - mesmo como um grito - é:

VIVE! VIVE! PEÇO-TE QUE VIVAS!

grandes pintores : o teu espaço k


Klimt

Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar.

António Ramos Rosa

6.9.07

um espaço com



Anne V. (alterada)

5.9.07

espaço al berto


Danwen Xing

Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge.

Al Berto

espaço : árvore ou sol


Jean François

Toda a árvore ganha beleza quando tocada pelo sol.

Jalal ud-Din Rumi

Fico a pensar se sou mais vezes árvore ou sol.
Fico a pensar - até - se serei algum dos dois.

Fico a pensar... no que gostaria de me tornar...
E tu?

3.9.07

espaço : não deixes


Rush to Come

Não deixes que termine o dia sem teres crescido um pouco, sem teres sido feliz, sem teres aumentado os teus sonhos. Não te deixes vencer pelo desalento. Não permitas que alguém retire o direito de te expressares, que é quase um dever. Não abandones as ânsias de fazer da tua vida algo extraordinário. Não deixes de acreditar que as palavras e a poesia podem mudar o mundo. Aconteça o que acontecer a nossa essência ficará intacta. Somos seres cheios de paixão. A vida é deserto e oásis. Derruba-nos, ensina-nos, converte-nos em protagonistas de nossa própria história. Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua: tu podes tocar uma estrofe. Não deixes nunca de sonhar, porque os sonhos tornam o homem livre.

Walt Whitman

2.9.07

espaço : o grande silêncio






Philip Gröning

Recomendo vivamente!

Nestled deep in the postcard-perfect French Alps, the Grande Chartreuse is considered one of the world’s most ascetic monasteries. In 1984, German filmmaker Philip Gröning wrote to the Carthusian order for permission to make a documentary about them. They said they would get back to him. Sixteen years later, they were ready. Gröning, sans crew or artificial lighting, lived in the monks’ quarters for six months—filming their daily prayers, tasks, rituals and rare outdoor excursions. This transcendent, closely observed film seeks to embody a monastery, rather than simply depict one—it has no score, no voiceover and no archival footage. What remains is stunningly elemental: time, space and light. One of the most mesmerizing and poetic chronicles of spirituality ever created, INTO GREAT SILENCE dissolves the border between screen and audience with a total immersion into the hush of monastic life. More meditation than documentary, it’s a rare, transformative theatrical experience for all.

Into Great Silence