29.2.08

Um dia no espaço...


Susanne Jansen

Em todos os jardins hei-de florir
Em todos beberei a lua cheia,
Quando enfim no meu fim eu possuir
Todas as praias onde o mar ondeia

Um dia serei eu o mar e areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há-de abrir.

Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como num beijo.

Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.


Sophia de Mello Breyner Andersen

Não sei se pense em morte ou em nascimentos e partos...

28.2.08

Espaço : corpo visível


Roman Velinov

Queria falar do mar - gostava de ter dito algo como isto:

- foi o mar que me fez começar a pensar no amor, mais do que noutra coisa; quero dizer, num amor por que valha a pena morrer, num amor que consuma uma pessoa.

Yukio Mishima

Tropecei neste texto [avassalador] algures por aqui.

27.2.08

O pequeno-almoço no espaço : escolham e sirvam-se!










Jennifer Causey

Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo ...

Carlos Drummond de Andrade

Se pudesse, tornaria estas imagens reais, como forma de agradecimento pela paciência que têm tido com as constantes mudanças deste blog. Chega!
Bom dia!

22.2.08

Orquídeas no espaço.

Photobucket
Carla Salgueiro

resta-me escancarar a porta da casa
e sorrir a todos os desconhecidos

Al Berto

A folha maior : espaço ninho



Nadav Kander



E o homem, então,
olhou em seu redor
e disse
às árvores: eu sou
a folha maior.

E as aves
do crepúsculo fizeram
ninho na sua boca.



Tenho este poema num caderno que reencontrei ontem. Infelizmente não tenho indicação do autor apesar de ter quase a certeza de que é de Albano Martins.
O meu limitado pensamento lógico não lhe retira grande sentido mas, mesmo assim, gosto dele e por isso o coloco aqui. Apela-me os sentidos...



Entretanto, decidi que vou voltar ao preto como fundo do blog e, possivelmente, voltar até à imagem anterior.

Costumo falar-lhe da inconstância da cor dos seus olhos mas,
é por dentro que mudamos todos os dias.

20.2.08

Um espaço sobre o significado das coisas banais...


Andreas Heumann


Um espírito vivaz e tranquilo tem a faculdade de encontrar atractivos nas coisas mais banais e sem significado aparente.


Jane Austen

19.2.08

Espaço : as estrelas podem ser barcos


Gustavo Aimar

Hoje, confesso, acordei com vontade de ser feliz.
Amarrei, até, no pulso o amor-perfeito
que foi secando no meu peito e retomei a velha máxima:
não deixar que qualquer angústia atinja o coração.
Um castelo de areia, é tudo quanto quero
para acostar o meu barco de papel.

Aproxima os olhos da vertigem e estremece
com a luz espessa, que brilha nos teus ombros.
No céu do teu país, as estrelas podem ser barcos,
se quiseres sulcar os mares do coração em desordem.

Graça Pires

17.2.08

Espaço : interessam assim tanto os porquês?


?

Uma maçã cai quando está madura. Porquê? É o peso que a faz cair? Ou porque se lhe seca o pé, porque o sol a queima, porque se tornou pesada de mais, porque o vento a sacudiu ou, muito simplesmente, porque um garoto junto da árvore morria por comê-la?

Leon Tolstoi

15.2.08

Espaço frágil


?

Tenho andado pelo branco.
Neste momento, ainda em transformações, com a sensação cada vez maior de que voltarei às cores e à imagem que identificavam este blog.
Apesar disso, mantenho-me pelo menos mais uns tempos assim e, neste post, radicalizo a alvura por quase todo o espaço com a intenção de reflectir o universo da fragilidade. Clareando tudo até que mal se consiga ver, mesmo correndo o risco de que se desista do esforço que pede a leitura.
Também assim é muitas vezes a fragilidade, de difícil percepção.
Quero, no entanto, apresentá-la como algo que não considero negativo mas, como algo que faz parte da nossa condição e que nos permite reconhecer que somos seres em falta. Cuja consciência e experiência de debilidade e carência, pode ser por si, impulso provocatório de aprendizagem e evolução.
Mais, ainda que em diferentes graus, parece-me que só quem foi em algum momento atravessado no peito/planície por seis mil búfalos em velocidade ou tenha sido mergulhado na escuridão solitária de águas profundas, pode crescer. Só quem tirou partido de já ter sido teia exposta até ao vento ou folha de outono em despedida a descolar de um ramo seguro, pode bem caminhar.
Só tem coragem quem tem medo e só pode ter força quem vive a fragilidade.
É ela que nos abre o reino das possibilidades e, enfim, com as legítimas dúvidas sobre isto tudo, é essa assunção que pode permitir os nossos avanços.

14.2.08

Um espaço intercultural


Kate T. Williamson

Há portugueses pobres e portugueses ricos; portugueses que não sabem ler e portugueses de cultura; portugueses exploradores e portugueses explorados, portugueses cuja vida na América é uma miséria e portugueses que só na América encontram dignidade.

Há americanos obtusos e americanos compreensivos, americanos que exploram o português e americanos que o ajudam, americanos que odeiam o português e americanos que o admiram, americanos estúpidos e americanos inteligentes.

Não concluam, portanto, o que são os portugueses e o que são os americanos.

Falem-me do João e da Teresa, da Susan e da Mary...

Pedro D'Orey da Cunha

Num mundo cada vez mais multicultural, ficar apenas em generalizações é um erro perigoso!
A realidade do Homem é sempre única e particular. Cabe a cada um procurar descobri-la.

13.2.08

Profundidade espaço Superfície


Guste


O sábio das coisas simples
olhou em torno e disse:
não há profundidade
sem superfície


É preciso dizer bom dia
quando o dia anoitece
ser exacto todo o dia
envelhece


Luís Veiga Leitão

12.2.08

Espaço transparente



Albert Koetsier

Como a beleza, a transparência é um valor inesgotável.

10.2.08

Espaço sobre a confiança


Amelka

A confiança não é uma questão aritmética ou fruto de grandes considerações intelectuais.

Ontem, bem cedo, o dia esteve muito claro e a praia vasta quase despida. No mercado, ao lembrar-me do "Caminho da Manhã"de Sophia de MB, pude comprar as flores mais brancas que por lá encontrei.

Só então me sentei no jardim, te vi e experimentei.


9.2.08

Acho que foi assim: um espaço de assombro em assombro.


?

aprende a falar - diz
a rosa: escreve de noite
e que o meu múltiplo sol
te guie inúmeros
os caminhos. põe-te numa sala
com a luz apagada
onde chegue acesa
a de uma outra, e
frágil,
ao papel que para ela
voltas. então, falas
das paixões, da pétala
que cai no interior
do coração
e navega na sombra do
sangue,
de assombro em
assombro.

Manuel Gusmão

8.2.08

As metáforas no espaço


Yamamoto Masao

Despojou-se das metáforas,
depois sentou-se nos seixos do rio
a escutar as águas.

Paulo José Miranda

Na incapacidade de largar as metáforas, permitam que vos deixe um pássaro em mãos.

7.2.08

Espaço : talvez até expluda a madrugada nos teus olhos...



Jacek Gasiorowski

Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo
nem fazer explodir a madrugada nos teus olhos.

Eu quero apenas amar-te lentamente
como se todo o tempo fosse nosso
como se todo o tempo fosse pouco
como se nem sequer houvesse tempo.

(...)

Joaquim Pessoa

5.2.08

Espaço de pequenas coisas.



Luc Rousseau

Falar do trigo e não dizer
o joio. Percorrer
em voo raso os campos
sem pousar
os pés no chão. Abrir
um fruto e sentir
no ar o cheiro
a alfazema. Pequenas coisas,
dirás, que nada
significam perante
esta outra, maior: dizer
o indizível. Ou esta:
entrar sem bússola
na floresta e não perder
o rumo. Ou essa outra, maior
que todas e cujo
nome por precaução
omites. Que é preciso,
às vezes,
não acordar o silêncio.

Albano Martins

Espaço sobre o maior desafio do homem


Elle

o maior desafio do homem
é dar à luz a si mesmo,
é tornar-se aquilo que ele
é potencialmente

Erich Fromm

1.2.08

Espaço : beijo

Beijo não é palavra de poema. É o raiar da madrugada, o anúncio de um dia longo, o final da tensão que ameaçava partir a corda: podemos escolher imagens, comparações, fazer literatura. Será sempre outra coisa, meu amor, o beijo do poema. É como o branco que dizem ser a fusão de todas as cores. Não se retira um beijo do poema, este é apenas a fotografia de alguns pormenores. Um beijo é o corpo que antes não existia e ali nasce, uma nova estrutura óssea que suporta um pulsar único, um aposento onde o esplendor apaga todas as lágrimas que conseguiram viver até chegar ali.

Egito Gonçalves


O texto traduz bem a minha incapacidade de escolher uma imagem...

Bom fim de semana!