30.3.07

grandes pintores: espaço do retrato



Gosto de retratos e gosto de Van Gogh, Modigliani, Schiele ou Lucian Freud.

Apetecia-me ir num salto ao Thyssen ver esta exposição que me parece um espanto. Estalar os dedos e ir parar a Madrid em frente a qualquer um destes quadros. Deter-me-ía principalmente em frente ao trabalho de Freud que nunca vi ao vivo e ficaria assim: quieto por umas horas, num tempo parado.

Não vai ser possível e não tem mal. O meu fim de semana será concerteza maravilhoso também. Haverá outras oportunidades. A vida é tão cheia delas... é preciso é treinar o olhar.

espaço ser o que sou

Às vezes penso que se fosse uma magnólia quereria ser um laranjeira, se fosse um águia quereria ser um cavalo ou se fosse quadro quereria ser uma fotografia.

Esqueço-me que devo ser o que sou. Pela evidência de ser o único que tenho e posso ser e, porque, só quando gostar disso é que posso tocar a felicidade e passá-la.

Fico a pensar que perdemos demasiado tempo em querer dar laranjas, em galopar velozmente ou em ser o flash de um instante supremo. Quando, na verdade, o que podemos fazer é chegar a dar muitas e belas flores, voar cada vez melhor ou tornarmo-nos até num Rembrandt.

Cada qual deve acabar por pegar na própria vida nos braços e beijá-la.

Arthur Miller

29.3.07

pés frios, o teu espaço


Gasiorowski

Quis adormecer e não consegui.

espaço: escrita que me toca

Um sítio onde se escreve muito bem: tubo de ensaio

28.3.07

arte no espaço rua


espaço luz

"Basta olhar para um homem para saber com toda a certeza se está apaixonado de verdade. Irradia à sua volta um ar de transfiguração, uma certa divinização que se perpetua durante toda a vida. É como uma concórdia entre coisas que, sem ela, pareceriam contraditórias: o enamorado é ao mesmo tempo, mais jovem e mais velho do que de ordinário; é um homem e, apesar de tudo, um rapaz, sim, quase um menino; é forte e, no entanto, é débil; há nele uma harmonia que invade a vida inteira."

Kierkegaard

Sem dúvida, estar apaixonado por uma mulher, homem, ideal ou projecto, é luminosamente recriador. É como se colocassem paus e pinhas e fósforos cá dentro. E lhe juntassem ar.
Inevitavelmente, para fora, salta a luz como labaredas de uma fogueira.

27.3.07

espaço be better



Kurt Halsey Frederiksen

Um mundo que nunca deve acabar. Dia a dia!

23.3.07

barriers: um espaço

É proibido publicar coisas tristes a não ser que sejam mesmo muito bonitas.
Como esta!

Gosto muito de animação mas, nesta, malditas barreiras! :-)

espaço da declaração de amor

Uma declaração de amor não é um acontecimento do domínio público, uma baleia que vara na praia sob o sol dos desastres e convoca multidões, desalinhando hábitos quotidianos; uma declaração de amor é um acto de grande intimidade que ergue um véu transparente de onde brotam mel e pássaros azuis. As palavras directas ou indirectas, ditas ou escritas, suscitam a carícia única, irrepetível, a leve percussão que desenha no silêncio a imagem do que se ama. E assim terá de se guardar. Num lugar seguro onde os sismos não possam encontrar o mapa do tesouro.

Egito Gonçalves In "O Mapa do Tesouro"

Tal como tinha prometido, mais um texto de EG, desta vez, para inspirar o fim de semana. Boas intimidades...

22.3.07

espaço um bocadinho mais


Rachel Salomon

Neste segundo de primavera deixei-me dormir um bocadinho mais.
Pareceu-me que fazia anos e que os dias se tornavam mais compridos.

luz e sombra no espaço

Shadow is a colour as light is, but less brilliant;
light and shadow are only the relation of two tones.


Paul Cezanne
aqui

21.3.07

papel no espaço parede






No primeiro dia de primavera, na parte oposta à janela, o fundo da sala ficaria assim ou assim ou assim ou assim...

espaço: primavera que chega

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jaipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
(...) Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos...
(...) Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

Cecília Meireles In "Obra em Prosa - Volume 1"

20.3.07

lua, espaço "i"


Nicoletta Ceccoli

Aqui estamos, sentados no telhado deste choupo na noite. Olhamos o céu descansado, vês a lua e griiiiitas. Não de dor nem luto mas ALEGRIA. Tanta que no teu entusiasmo procuras mais e repetes: "outra, outra...". Como se de um jogo se tratasse, como se não pudesse existir apenas uma e o belo não pudesse estar só ali.
Expliquei-te que a lua que vemos é única e que a beleza muitas vezes está no singular, que se houvessem mais deixaríamos de as distinguir, não lhe daríamos tanto valor e o seu encanto perder-se-ía.
Parei de falar expectante... Não te bastou e começaste num choro pequenino que me parecia fatal. Procurei em volta auxílio mas a única coisa que se viam eram choupos calados, estacas com ramos vazios de folhas, cobertos somente pela luz clara daquela noite de final de inverno. Não me serviam de ajuda.
Limpei-te as lágrimas às mangas azuis e, hesitantemente, olhei-te com medo por não ter o que dizer e por nem a mim me ter convencido.
A verdade só se revelaria momentos depois e não seria por mim.
Num segundo passado, sorriste e voltaste a griiiiitar: "outra, outra...". Apontaste os meus olhos espelhos e ali estavam, duas luas diferentes. Num dom em que a beleza não se contém porque não pode nem quer. Apenas porque precisa, porque sente sempre a necessidade de se multiplicar.
A qualquer momento, aqui, ali, nos meus olhos e nos teus também.

ps - a imagem não serve na história mas, paciência, vai dar ao mesmo.

espaço apenas silêncio: muito

.
.
.
(.)

16.3.07

15.3.07

paisagem, o teu espaço branco e verde



Zu Pan

espaço tem de haver outra maneira

Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida... Não chegam! Não duro nem para metade da livraria! Deve haver certamente outra maneira de se salvar uma pessoa, senão estarei perdido.

Almada Negreiros

14.3.07

espaço spring


Harry Zernike

A imagem foi "roubada" no excelente little black spot.

Aguardo a primavera cuja luz me fará crescer as unhas e me dará uma falsa ideia de rejuvenescimento que deporei no teu regaço. Mas haverá estrelas loucas, cerejeiras pintando a paisagem, brisas que nos ramos atravessam sonhos, as portas do coração abertas ao rumor dos corpos, a alegria do rosto que comunica os sentimentos, seguros do seu peso, da sua incandescência perene. Quando isso se perde, as palavras necessárias desaparecem como floresta abatida e a estação encerra-se no frio, sem atingir o florescer do jacarandá.

Egito Gonçalves In "O Mapa do Tesouro"

Porque é alto o apreço que tenho pela poesia de E. G. e porque sinto que devia ser mais lido, transcreverei mais alguns textos dele neste blog.

esperança: um espaço verdadeiro



Contemplar o céu, as nuvens, a lua e as estrelas tranquiliza-me e devolve-me a esperança, isto não é, certamente, imaginação. A Natureza torna-me humilde e prepara-me para suportar com valentia todos os golpes.
...
Enquanto isto existir e eu possa ser sensível a isto - a este sol radiante, a este céu sem nuvens - não posso estar triste.

Anne Frank In "Diário de Anne Frank"

Asfalto e betão. Tempo dos grandes espaços urbanos. Quase cobertos pelos prédios e pelas suas alturas. Se gosto, não me basta.
Vivermos aprisionados pelas sombras dos edifícios que se agigantam ante nós. Caminhantes tantas vezes de cabeça baixa ou levantada só em vaidade. Cinzentos.
Nessa característica do Homem ocidental moderno - desesperançado, inseguro e dominado pelo medo - que tantas vezes não consegue ver a imensidão do céu.
No meio de Amesterdão, no esconderijo, através de uma pequena janela, Anne Frank conseguia ver mais alto e muito longe.
Essa é uma das suas grandes lições para quem no cimento das cidades também se encontra cativo. Tantas vezes eu!
Olho lá para fora e descobre-se o azul intenso. A natureza única e sempre autêntica. Que me penetra o peito. Que empurra o sorriso. Bom Dia!

13.3.07

espaço bonita "i" comprida


B. Berenika

pele, o teu espaço


Katja Ollendorff

Calor.
Calor.

Ardo.

12.3.07

chegou mas não totalmente, o espaço


Ameixoeira de Jardim (Prunus Cerasifera)

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Cecília Meireles

A luz deve ser revelada, porque sim. Apesar de publicitarem mais o feio cru, o feio maquilhado de belo, o belo infértil.
A claridade é-me imprescindível, como necessidade. Apesar de saber que a "erva cresce de noite", discretamente, sem darmos conta.

Bom, hoje toquei a pétala da prunus que me falou: alerta, se quiseres, a primavera já está, ainda que não totalmente.

11.3.07

Sopa fertilizante, espaço "i"




Descobri este tesouro em Le Vide-Grenier de Polyminthe.
O filme pode ser visto aqui. Lindo!

9.3.07

espaço escuto

Escuto mas não sei
Se o que ouço é silêncio
ou Deus

Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do Universo
Me decifra e fita

Apenas sei que caminho como quem
É amado olhado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco


Sophia de Mello Breyner Andresen In "A Noite e a Casa"

8.3.07

beleza no espaço






Sandig

7.3.07

espaço primavera em processo



Simon Otto, óleo sobre tela, 2006

Através da janela, um frágil pedaço de sol repousa nos teus pés. Como na vida, ainda que não vejamos, podemos avançar para a Primavera.

espaço se por acaso ouvires esta mensagem

Se por acaso ouvires esta mensagem, não finjas que não a ouviste, nem te distraias a olhar as nuvens, ou a falar de outro assunto com quem estiver a teu lado. Se a ouvires, assume que a ouviste. Porque não se pode ao mesmo tempo ouvir e não ouvir.Há palavras que, uma vez ouvidas, nos mudam para sempre. Devias saber isso, afinal não eras tu mesmo que o dizias? É isso que pretendo, falando: mudar-te. [continua]

Teolinda Gersão In "A Mulher que Prendeu a Chuva"
fragmento do conto "Se por acaso ouvires esta mensagem", pré-publicado no JL

Para acompanhar no excelente Divas e Contrabaixos.

espaço... e por falar em meninos azuis



Exposição menina azul

6.3.07

grandes pintores, espaço fb


Fernando Botero

"i" espaço azul

O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)


Cecília Meireles, O Menino Azul

ontem, espaço alentejo



É a sua pequenez que as torna gigantes.

2.3.07

este fim de semana no espaço porto



Dá-me gosto ver a cidade a mexer.

espaço victor outra vez

A gargalhada é o sol que varre o inverno do rosto humano.

Victor Hugo

espaço asas, anjo não


Eva Armisén, quiero ser como un angel pero no me sale bien, 2005

1.3.07

espaço outra vez belo

meu único país é sempre onde estou bem

mesmo que não conheças nem o mês nem o lugar
caminha para o mar pelo verão

aqui eu fui feliz aqui fui terra
aqui fui tudo quanto em mim se encerra
aqui me senti bem aqui o vento veio
aqui gostei de gente e tive mãe
em cada árvore e até em cada folha

e eu chego e sento-me ao lado
da primavera


Ruy Belo, excertos de vários poemas

espaço "i" na paisagem


Brook Slane