30.3.07
grandes pintores: espaço do retrato
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espaço ser o que sou
Às vezes penso que se fosse uma magnólia quereria ser um laranjeira, se fosse um águia quereria ser um cavalo ou se fosse quadro quereria ser uma fotografia.
Esqueço-me que devo ser o que sou. Pela evidência de ser o único que tenho e posso ser e, porque, só quando gostar disso é que posso tocar a felicidade e passá-la.
Fico a pensar que perdemos demasiado tempo em querer dar laranjas, em galopar velozmente ou em ser o flash de um instante supremo. Quando, na verdade, o que podemos fazer é chegar a dar muitas e belas flores, voar cada vez melhor ou tornarmo-nos até num Rembrandt.
Cada qual deve acabar por pegar na própria vida nos braços e beijá-la.
Arthur Miller
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29.3.07
espaço: escrita que me toca
Um sítio onde se escreve muito bem: tubo de ensaio
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28.3.07
espaço luz
"Basta olhar para um homem para saber com toda a certeza se está apaixonado de verdade. Irradia à sua volta um ar de transfiguração, uma certa divinização que se perpetua durante toda a vida. É como uma concórdia entre coisas que, sem ela, pareceriam contraditórias: o enamorado é ao mesmo tempo, mais jovem e mais velho do que de ordinário; é um homem e, apesar de tudo, um rapaz, sim, quase um menino; é forte e, no entanto, é débil; há nele uma harmonia que invade a vida inteira."
Kierkegaard
Sem dúvida, estar apaixonado por uma mulher, homem, ideal ou projecto, é luminosamente recriador. É como se colocassem paus e pinhas e fósforos cá dentro. E lhe juntassem ar.
Inevitavelmente, para fora, salta a luz como labaredas de uma fogueira.
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27.3.07
23.3.07
barriers: um espaço
É proibido publicar coisas tristes a não ser que sejam mesmo muito bonitas.
Como esta!
Gosto muito de animação mas, nesta, malditas barreiras! :-)
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espaço da declaração de amor
Uma declaração de amor não é um acontecimento do domínio público, uma baleia que vara na praia sob o sol dos desastres e convoca multidões, desalinhando hábitos quotidianos; uma declaração de amor é um acto de grande intimidade que ergue um véu transparente de onde brotam mel e pássaros azuis. As palavras directas ou indirectas, ditas ou escritas, suscitam a carícia única, irrepetível, a leve percussão que desenha no silêncio a imagem do que se ama. E assim terá de se guardar. Num lugar seguro onde os sismos não possam encontrar o mapa do tesouro.
Egito Gonçalves In "O Mapa do Tesouro"
Tal como tinha prometido, mais um texto de EG, desta vez, para inspirar o fim de semana. Boas intimidades...
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22.3.07
espaço um bocadinho mais
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luz e sombra no espaço
Shadow is a colour as light is, but less brilliant;
light and shadow are only the relation of two tones.
Paul Cezanne
aqui
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21.3.07
espaço: primavera que chega
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jaipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
(...) Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos...
(...) Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
Cecília Meireles In "Obra em Prosa - Volume 1"
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20.3.07
lua, espaço "i"
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16.3.07
15.3.07
espaço tem de haver outra maneira
Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida... Não chegam! Não duro nem para metade da livraria! Deve haver certamente outra maneira de se salvar uma pessoa, senão estarei perdido.
Almada Negreiros
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14.3.07
espaço spring
Aguardo a primavera cuja luz me fará crescer as unhas e me dará uma falsa ideia de rejuvenescimento que deporei no teu regaço. Mas haverá estrelas loucas, cerejeiras pintando a paisagem, brisas que nos ramos atravessam sonhos, as portas do coração abertas ao rumor dos corpos, a alegria do rosto que comunica os sentimentos, seguros do seu peso, da sua incandescência perene. Quando isso se perde, as palavras necessárias desaparecem como floresta abatida e a estação encerra-se no frio, sem atingir o florescer do jacarandá.
Egito Gonçalves In "O Mapa do Tesouro"
Porque é alto o apreço que tenho pela poesia de E. G. e porque sinto que devia ser mais lido, transcreverei mais alguns textos dele neste blog.
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esperança: um espaço verdadeiro
...
Enquanto isto existir e eu possa ser sensível a isto - a este sol radiante, a este céu sem nuvens - não posso estar triste.
Anne Frank In "Diário de Anne Frank"
No meio de Amesterdão, no esconderijo, através de uma pequena janela, Anne Frank conseguia ver mais alto e muito longe.
Olho lá para fora e descobre-se o azul intenso. A natureza única e sempre autêntica. Que me penetra o peito. Que empurra o sorriso. Bom Dia!
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13.3.07
12.3.07
chegou mas não totalmente, o espaço
Ameixoeira de Jardim (Prunus Cerasifera)
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
A claridade é-me imprescindível, como necessidade. Apesar de saber que a "erva cresce de noite", discretamente, sem darmos conta.
Bom, hoje toquei a pétala da prunus que me falou: alerta, se quiseres, a primavera já está, ainda que não totalmente.
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11.3.07
Sopa fertilizante, espaço "i"
Descobri este tesouro em Le Vide-Grenier de Polyminthe.
O filme pode ser visto aqui. Lindo!
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9.3.07
espaço escuto
Escuto mas não sei
Se o que ouço é silêncio
ou Deus
Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do Universo
Me decifra e fita
Apenas sei que caminho como quem
É amado olhado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco
Sophia de Mello Breyner Andresen In "A Noite e a Casa"
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8.3.07
7.3.07
espaço primavera em processo
Simon Otto, óleo sobre tela, 2006
Através da janela, um frágil pedaço de sol repousa nos teus pés. Como na vida, ainda que não vejamos, podemos avançar para a Primavera.
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espaço se por acaso ouvires esta mensagem
Se por acaso ouvires esta mensagem, não finjas que não a ouviste, nem te distraias a olhar as nuvens, ou a falar de outro assunto com quem estiver a teu lado. Se a ouvires, assume que a ouviste. Porque não se pode ao mesmo tempo ouvir e não ouvir.Há palavras que, uma vez ouvidas, nos mudam para sempre. Devias saber isso, afinal não eras tu mesmo que o dizias? É isso que pretendo, falando: mudar-te. [continua]
Teolinda Gersão In "A Mulher que Prendeu a Chuva"
fragmento do conto "Se por acaso ouvires esta mensagem", pré-publicado no JL
Para acompanhar no excelente Divas e Contrabaixos.
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espaço... e por falar em meninos azuis
Exposição menina azul
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6.3.07
"i" espaço azul
O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.
O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.
O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.
E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.
(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)
Cecília Meireles, O Menino Azul
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2.3.07
espaço victor outra vez
A gargalhada é o sol que varre o inverno do rosto humano.
Victor Hugo
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1.3.07
espaço outra vez belo
meu único país é sempre onde estou bem
mesmo que não conheças nem o mês nem o lugar
caminha para o mar pelo verão
aqui eu fui feliz aqui fui terra
aqui fui tudo quanto em mim se encerra
aqui me senti bem aqui o vento veio
aqui gostei de gente e tive mãe
em cada árvore e até em cada folha
e eu chego e sento-me ao lado
da primavera
Ruy Belo, excertos de vários poemas
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