6.7.09

A arte poética no espaço

Se o poema não serve para dar o nome às coisas
outro nome e ao silêncio outro silêncio,
se não serve para abrir o dia
em duas metades como dois dias resplandecentes
e para dizer o que cada um quer e precisa
ou o que a si mesmo nunca disse.

Se o poema não serve para que o amigo ou a amiga
entrem nele como numa ampla esplanada
e se sentem a conversar longamente com um copo de vinho na mão
sobre as raízes do tempo ou o sabor da coragem
ou como tarda a chegar o tempo frio.

Se o poema não serve para tirar o sono a um canalha
ou ajudar a dormir o inocente
se é inútil para o desejo e o assombro,
para a memória e para o esquecimento.

Se o poema não serve para tornar quem o lê
num fanático
que o poeta então se cale.

António Ramos Rosa

4 comentários:

mdsol disse...

Que bom que está tudo bem. Também eu passo a correr.

A escolha do poema, como sempre muito boa.

:))

Marguerita disse...

Ah, que não se cale!

Bjs

Semente disse...

Que regresso!

Adoro este blog!
Parabéns pela escolha das palavras e das imagens. São mesmo lindas!

Eu acho que as palavras não pertencemao a uma pessoa. São elas que nos escolhem, que vêm ter connosco e se juntam numa frase, comodamente.
Mesmo na poesia, o poeta espera por elas. E, quando elas chegam ao poeta, é o nascer. Nascem para uma nova vida de cada vez que são reescritas, ditas, soletradas, letra por letra, depois uma vírgula que as ajuda a segurar nas pernas frágeis.

nunca mais acabava de escrever... as palavras hoje vieram ter comigo a correr, todas contentes, quando entrei no blog e li estes últimos posts :)

Hoje deixo beijinhos azuis*

V. disse...

que bom ler-te de volta! :)