As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões
E muitas transformam-se em árvores cheias de ninhos - digo,
As mulheres - ainda que as casas apresentem os telhados inclinados
Ao peso dos pássaros que se abrigam.
É à janela dos filhos que as mulheres respiram
Sentadas nos degraus olhando para eles e muitas
Transformam-se em escadas
Muitas mulheres transformam-se em paisagens
Em árvores cheias de crianças trepando que se penduram
Nos ramos - no pescoço das mães - ainda que as árvores irradiem
Cheias de rebentos
As mulheres aspiram para dentro
E geram continuamente. Transformam-se em pomares.
Elas arrumam a casa
Elas põem a mesa
Ao redor do coração
Homens que são como projectos de casas
Em suas varandas inclinadas para o mundo
Homens nas varandas voltadas para a velhice
Muito danificados pelas intempéries
Homens cheios de vasilhas esperando a chuva
Parados à espera
De um companheiro possível para o diálogo interior
Homens muito voltados para um modo de ver
Um olhar fixo como quem vem caminhando ao encontro
De si mesmo
Homens tão impreparados tão desprevenidos
Para se receber
Homens à chuva com as mãos nos olhos
Imaginando relâmpagos
Homens abrindo lume
Para enxugar o rosto para fechar os olhos
Tão impreparados tão desprevenidos
Tão confusos à espera de um sistema solar
Onde seja possível uma sombra maior
Para começar bem a semana, dois brilhantes poemas de Daniel Faria sobre "casas",
sobre relações e sobre aquilo que vamos sendo.
Disseste-me: levanta-te, vai ver o que mora por dentro!
6 comentários:
o daniel faria é agora um cometa iluminado no universo, mas deixou poemas de cortar a respiração :)
composição linda!arrepiante! palavras e imagens:)
este poema alaga
os espaços
cintila
o peito das casas
[ espreguiçando-as
~
.
estamos todos à espera. confusos à espera de um sistema solar.
.
tão... sim, assim nós
( e vocês! )
beijo-casa
If im in the situation of the owner of this blog. I dont know how to post this kind of topic. he has a nice idea.
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