24.3.08

Pelo espaço entre as nuvens percebe-se a investida insistente da primavera


Fyshi

Depois de ter cortado todos os braços que se estendiam para mim; depois de ter entaipado todas as janelas e todas as portas; depois de ter inundado os fossos com água envenenada; depois de ter edificado minha casa num rochedo inacessível aos afagos e ao medo; depois de ter lançado punhados de silêncio e monossílabos de desprezo a meus amores; depois de ter esquecido meu nome e o nome da minha terra natal; depois de me ter condenado a perpétua espera e a solidão perpétua, ouvi contra as pedras de meu calabouço de silogismos a investida húmida, terna, insistente, da Primavera.

Octávio Paz

3 comentários:

Dalaila disse...

Depois de ter lido este texto também me senti na Primavera

Queen Frog disse...

a primavera é uma menina valente. ela vai renascer entre gotas de água:)

Gosto tanto dos teus títulos:)*

Chloé disse...

Adoro a imagem e quanto ao texto não serve de nada refugiarmo-nos, fecharmo-nos...nunca conseguimos isolar-nos do mundo, sermos totalmente indiferentes, não mudarmos com as estações! Fazem-me cá um bem os teus posts que as vezes penso neles quando ando ai pela vida, no carro, numa pausa,...