Há um tipo de choro bom e há outro ruim. O ruim é aquele em que as lágrimas correm sem parar e, no entanto, não dão alívio. Só esgotam e exaurem. Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse choro como o de uma criança com a angústia da fome. Era. Quando se está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se: não vai adiantar. É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar. É difícil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue a ponto de empalidecer.
Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda.
Homem chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta às vezes inútil. Respeito muito o homem que chora. Eu já vi homem chorar.
Clarice Lispector
E, claro... onde se lê homem, leia-se mulher também.
17.5.07
espaço: quando chorar
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4 comentários:
Palavras que ilustram o meu silêncio... (!)... é suave a sensação de as encontrar fora de mim... porque, de facto, é preciso respeitarmos a nossa fraqueza, pincelando-a com essas lágrimas suaves, da tal tristeza legítima à qual temos direito. "Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor", ainda que essa dor seja leve, também... como se fosse apenas um vazio cheio de nevoeiro de inverno.
e como é bom ser frágil...*
As lágrimas purificam... lindíssimo este texto de Clarice Lispector.
a necessidade de por vezes estar só,é para isso mesmo,para poder chorar e aliviar o que nos está a sufocar!
E gosto de chorar sozinha,para não preocupar ninguém,e para poder abraçar tudo o que as lágrimas nos podem trazer!
Este texto,LINDO!
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