19.4.07

espaço mia couto

Dito numa entrevista:

A minha infância ainda está a acontecer. Para mim não é só um tempo, é a capacidade que temos de nos espantar e de sermos encantados, e , nesse aspecto, ainda vivo em estado de infância. Tudo me fascina. Sou muito ingénuo. Sou quase um rural visitando pela primeira vez uma cidade. Mas quero manter isso, apesar de saber que não é muito prático. A única maneira que tenho de ser feliz é ter esta sensação de estranhamento. Como se estivesse a olhar pela primeira vez as coisas. Essa é a minha receita para ser feliz.

Escrito nos seus livros:

Não é da luz do sol que carecemos. Milenarmente a grande estrela iluminou a terra e, afinal, nós pouco aprendemos a ver. O mundo necessita ser visto sob outra luz: a luz do luar, essa claridade que cai com respeito e delicadeza. Só o luar revela o lado feminino dos seres. Só a lua revela a intimidade da nossa morada terrestre.
Necessitamos não do nascer do Sol. Carecemos do nascer da Terra.


- Esse poente, esse poente! Você usava aquela outra palavra que eu gostava tanto, como era?
- Crepúsculo.
- Era isso mesmo, crespu... diga lá outra vez!
- Crepúsculo.
- Maravilha, disse Rodrigues, soletrando repetidamente a palavra. E suspirou: Estou para aqui todo crepuscalado.


Deu-se o caso numa família pobre, tão pobre que nem tinha doenças. Dessas em que se morre mesmo saudável. (...) Em todo o mundo, os pobres têm essa estranha mania de morrerem muito.

Um último escrito:
(com este eu não concordo :-), a verdadeira felicidade dá uma trabalheira brutal e ainda bem!)

Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção da alma que nem chegou a falecer.

Mia Couto, inventor de palavras, pensamentos e factos, acaba de ser novamente galardoado.
Desta vez foi o Prémio União Latina de Literaturas Românicas.
Fico contente!

1 comentários:

Inês disse...

eu também vivo "em estado de infância"... e que bom que é...*